DossiêDISCURSO DE RECEPÇÃO A HELOISA BUARQUE DE HOLLANDAAna Maria MachadoQuando começamos a conviver, ainda na década de 1960, logo me impressionou sua capacidade de equilibrar qualidades complementares – por vezes até julgadas opostas pelo senso comum. Como, por exemplo, a clareza racional e a intensidade afetiva. Ou a busca da solidez teórica e o simultâneo respeito ao improviso e à intuição. Aspectos raros de serem encontrados na mesma pessoa de forma balanceada, em configuração que logo aprendi a admirar. E até hoje admiro, cada vez mais, nessa Heloisa que é uma mestra em cruzar fronteiras. Sempre a nos surpreender com grandes guinadas investigativas e criadoras ou suas pequenas rebeldias simbólicas. Desde que a conheci.
DossiêCrônica para a amiga que se foiAna Maria De Bulhões-CarvalhoHelô, querida, você era a encarnação do paradoxo: quando pensava, uma leoa destemida, aguerrida, inauguradora, inventadeira de novidades; quando sentia, um furacão, que tudo devastava, mas que também se deixava devastar, e dava de parecer frágil, os pulmões logo se ressentiam, uma tristeza profunda da qual não se livrava, nem com todas as mezinhas do pai, grande médico, nem com o saber que adquirira ao longo dos tempos; nem com o carinho daqueles a que permitia dividir sua intimidade. Depois, com o tempo, a alegria voltava. Porque do lado de fora, no sorriso e no trato com as pessoas, a alegria estava sempre lá, sustentando sua beleza de atriz nouvelle vague.
DossiêHELOISA TEIXEIRA E O FEMINISMO COMO MOVIMENTO DE AFETOSusana De CastroNos últimos anos, a universidade tem sido desafiada a repensar sua função social diante das demandas por justiça epistêmica e inclusão. Em meio a esse cenário, a trajetória de Heloisa Teixeira — conhecida como Helô — destaca-se como exemplo de uma prática intelectual que articula saberes acadêmicos e populares, teoria e afeto, razão e corpo. Sua atuação à frente da Universidade das Quebradas (UFRJ) é emblemática desse esforço de reconfiguração dos espaços e formas de produção de conhecimento.
DossiêAS MESAS E OS BANQUETESEduardo CoelhoDesde que surgiu no cenário da crítica da cultura brasileira até hoje, Helô manifestava interesse pela coletividade, como atestam as dinâmicas relacionais da geração mimeógrafo, à qual ela se dedicou na antologia 26 poetas hoje, publicada em 1976; em sua tese, Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70, lançada em 1980, e no livro Rebeldes e marginais: cultura nos anos de chumbo (1960-1970), que veio a público em 2024. Seu interesse pelo trabalho coletivo se manifestou igualmente na criação do Centro Interdisciplinar de Estudos Contemporâneos – CIEC, em 1986, e no Programa Avançado de Cultura Contemporânea – PACC, em 1994, ambos avessos à idiorritmia.
DossiêHELÔ, SEMPRE PRESENTEFred GóesSó se adquire experiência por meio do ensaio, da tentativa, isto é, do experimento. Era o que acreditava a emérita professora Heloisa Teixeira, antes, Buarque de Holanda, eternamente Helô. Era o que ela ensinava. Muitas vezes a ouvi usar o verbo polinizar no sentido de alastrar, divulgar, espalhar o conhecimento. Não tinha olhos para saberes estabelecidos, fechados neles mesmos, preconcebidos, preconceituados, ao contrário disso, acreditava em possibilidades, em novos prismas, sempre aberta a novas interpretações.
DossiêGLOSSÁRIO HELÔLaboratório De Teorias E Práticas FeministasPor que um glossário? Acreditamos que um glossário permite gerar, a partir da memória de Heloisa Teixeira, um arquivo vivo: uma colagem de posições teóricas e lembranças do convívio com ela, além de um espaço de experiência e de conversa que faz justiça aos modos de trabalho que a Helô promovia. Ao invés de um esforço para reunir ou promover conhecimentos padronizados, nossa intenção é divulgar para o mundo o que ela nos dizia, para manter abertos os diálogos que a nossa autora, professora, crítica e musa inspiradora engendrou.
Dossiê…HELÔ, NO MEIO DO CAMINHORamon Nunes MelloMeu primeiro encontro com a Helô foi em um livro, no início dos anos 2000, como leitor. Para ser mais preciso, foi em 1968 – O ano que não terminou (1989), de Zuenir Ventura. Estudante de Jornalismo, fui atrás das obras do “mestre Zu”, como Helô gostava de chamá-lo. Foi assim que esbarrei com a professora em sua voz impressa, na apresentação do livro, relembrando o emblemático ano que marcaria sua produção crítica e cultural.
DossiêSESSÃO DA SAUDADEJoão AlminoQuero registrar também algo que considero importante: a Helô foi uma feminista de destaque, de grande influência. E, mesmo sendo uma feminista convicta, soube reconhecer o valor literário de uma antifeminista declarada como Rachel de Queiroz. O que conto aqui aconteceu na noite de 27 do mês passado; soube da morte da Helô na manhã seguinte.
DossiêSOBRE INTELECTUAIS & BISCATEIRASPaulo Roberto Pires“Acho que sou uma biscateira cultural”. Assim, Heloisa Teixeira, ainda Buarque de Hollanda, tentava explicar para Ana Maria Bahiana — e talvez para si mesma — o que fazia no ano de 1979 que então se encerrava. Num raro encontro em que entrevistada e entrevistadora dialogam de igual para igual, a conversa no Jornal do Brasil gira em torno das múltiplas e inquietas atividades de Heloisa.
DossiêELOGIO À AMIZADEAlcida Rita RamosModulações investe no exercício de transformar inspiração em reflexão. Ao longo da série, seleciono trechos de biografias, vivências, etnografias, literatura, entrevistas e outras expressões escritas, mas também pensamentos, desabafos, protestos e outras manifestações da oralidade que, de alguma maneira, tocam uma corda no meu ser. São pontos de partida, impulsos que me propelem a examinar e, com sorte, ampliar certas ideias e dar à consciência crítica o sentido que lhe confere Elena Mustakova-Possardt (Critical Consciousness: A Study of Morality in Global, Historical Context, 2003): um modo de ser que une coração e mente.
DossiêAS ANTOLOGIAS DE HELOISA: O CÂNONE E O NOVOBeatriz ResendeHeloisa Buarque de Hollanda, verbete de enciclopédias, dicionários, bibliografias nacionais e internacionais, é referência fundamental em nossas pesquisas sobre literatura brasileira e estudos de cultura; relações entre arte e política; feminismo e, de forma muito especial, a poesia entre nós. Tornou-se uma intérprete privilegiada do Brasil dos anos 1970 a 2025. Transformou-se, ela mesma, em cânone da cultura brasileira, e partiu.
DossiêHELÔ NA EDITORA UFRJ E NO MEU CORAÇÃOFernanda Almeida RibeiroEra 1990. Eu subia as escadas da Escola de Comunicação da UFRJ, vindo da Ilha do Fundão, com minha carta de apresentação à direção da escola. As professoras Heloísa Buarque de Hollanda e Beatriz Resende desciam as escadas no mesmo momento. Ali seria o meu primeiro contato com a Helô. Ao cumprimentar Beatriz Resende, ela me apresentou à Helô, que imediatamente me perguntou “O que você vem fazer aqui?” E, depois de minha resposta, ela disse: “Vem trabalhar comigo”. Rindo, eu respondi: “Mas eu acabei de chegar!” A partir daquele momento ela me convidou por cinco anos para trabalhar com ela, até que, em março de 1995, fui procurá-la para dizer que era chegada a hora. Desde então, ela me levou para a Editora UFRJ, onde estou até hoje.
DossiêBREVE HOMENAGEM A HELÔ – UM TESTEMUNHO PESSOALLuiz Eduardo SoaresNo dia 30 de outubro de 2020, me preparei para entrevistar Heloisa Teixeira, na época ainda Heloisa Buarque de Hollanda, que nós chamávamos, carinhosamente, de Helô. A intenção era cumprir um plano que soava como uma engraçada determinação bíblica: “Entrevistai-vos uns aos outros, e umas às outras”. Uma ideia que não sei se foi originalmente de Beatriz Resende ou Ilana Strozenberg, à qual aderi com enorme prazer.
PoesiaPARA A TITULAR DOS MEUS AFETOSMary CastroSabe amiga, tem dia que a falta é tanto Sem acalanto Um vazio se instala Estala Grita em silêncio Ecoa […]
EntrevistaOS CAMINHOS DE CORRESPONDÊNCIA COMPLETA ATÉ A LITERATURA FEMININABruno Oliveira CoutoConversar com Heloisa Teixeira sobre Ana Cristina Cesar é abrir delicadamente uma correspondência que ainda pulsa. Entre Londres, a PUC-Rio […]
Vale a pena ler de novoPOLÍTICAS DA TEORIANo segundo semestre de 2020, a Revista Z Cultural deu início à publicação de uma nova seção, Vale a Pena […]